É muito comum ouvir dos professores que é preciso pensar em inglês. Mas o que exatamente significa isso? Será que nossos pensamentos ocorrem em alguma determinada língua? Será que a produção de linguagem em inglês pode se tornar completamente independente do português? Como acostumar a cabeça a ouvir, escrever e falar a língua inglesa sem traduzir? Vamos pensar juntos, então!
Engatinhando para pensar em inglês
Usar uma língua de maneira natural envolve conhecê-la, e para isso é preciso que ela seja uma presença constante na sua vida. Mas como conseguir essa aproximação se conhecemos muito pouco para que seja possível entender os textos e as falas? A resposta: voltando a ser criança!
Uma criança está constantemente aprendendo o idioma ao seu redor. Ela engatinha também na língua – ativamente, ela reproduz esses sons, vai se acostumando com eles. Inconscientemente, vai conectando esses sons a significados. O mesmo ocorre com a gramática. Ninguém ensina sintaxe para uma criança – ela reproduz o que ouve e o cérebro se encarrega de decodificar e estabelecer as regras por conta própria.
Um caso clássico dessa evolução constante da linguagem de uma criança é o aprendizado das irregularidades do idioma. Essa criança poderá em algum momento dizer a seus pais algo como:
“The teacher teached us how to draw” (“o(a) professor(a) nos ensinou como desenhar”), e ser corrigido por eles:
“The teacher taught us how to draw”! (“Taught”, e não “teached”, é o passado de “teach”).
A criança aprende que essa é uma irregularidade e sua mente se ajusta a mais uma das muitas exceções presentes da língua.
É um aprendizado por exposição e correção. A criança aprendeu a falar por estar exposta a um oceano do idioma – na televisão, no computador, nas vozes ao redor. E passa a ser corrigida e a se autocorrigir enquanto produz. Mas perceba como a produção da frase incorreta veio a partir do “pensamento em inglês”. É isso que importa.
É preciso uma boa dose de…
Humildade
A humildade de saber que não se sabe. Que vamos começar do zero. Isso vai fazer com que você evite transpor o seu conhecimento da língua portuguesa para a língua inglesa, como se fosse um trabalho de tradução. Não é!
O primeiro passo, portanto, para aprender inglês é considerá-lo algo completamente novo, a ser construído do zero, com muita exposição, repetição, estudo, leitura, escrita, audição… Não se pressione para falar a língua nova tão bem como você fala a sua nativa. Isso só vai acontecer se você se permitir engatinhar como engatinhou um dia.
Para estudantes adultos, isso pode até ser fácil de entender. Mas é preciso pôr em prática. O seu cérebro é esperto o bastante: ele vai se ajustar e separar uma língua da outra por conta própria.
Entendimento e comparação
Quando você já estiver dando seus primeiros passos autônomos na língua, é praticamente inevitável fazer comparações com a língua nativa – especialmente para os adultos.
Na forma como descrevemos as pessoas, por exemplo, temos:
I am 30 years-old. (Eu tenho 30 anos de idade).
Em inglês, a pessoa é (to be) a sua idade, em vez de tê-la (to have).
A inversão do verbo com o sujeito para fazer perguntas não é típica do português, como é do inglês:
Is she a surgeon? (Ela é cirurgiã?)
E a voz passiva em inglês tem usos completamente impensáveis em português, como:
I was given a wonderful Christmas gift. (Eu ganhei – ou “foi-me dado” um presente de Natal maravilhoso).
This is thought of as the main solution to our problems. (Isso é considerado a solução principal para os nossos problemas).
Ou seja, apesar de termos de aprender a língua nova de forma independente, nosso cérebro não consegue simplesmente ser independente da sua língua nativa. Você precisa perceber, entender e aplicar as particularidades da língua inglesa e dissociá-las ativamente do português.
Mas o objetivo permanece o mesmo. Que a estranheza dessa particularidade, após ser trabalhada pelo estudante, torne-se lugar comum e seja levada ao “compartimento permanente da língua inglesa” na sua cabeça. Aí você vai poder criar essas frases sem acessar a língua portuguesa. Ou seja, estará pensando em inglês.
É praticamente impossível não pensar no caso do present perfect, um tempo verbal que não usamos como brasileiros e com o qual nossos estudantes encontram dificuldades:
I have been to Florida a few times. (Eu estive na Flórida algumas vezes).
I have already had lunch. (Eu já almocei).
Pensar em inglês, nesses casos, significa entender que have been não é tenho estado. E que have had lunch não é tenho almoçado.
Às vezes vai ser preciso dissecar um pouco da gramática para entender como ela funciona. E praticar até o seu cérebro mandar essa modelo de construção de frases da memória de curto prazo para a memória de longo prazo – onde está o “compartimento permanente da língua inglesa”.
Espera aí! É como uma criança ou não, afinal?
Para os adultos – e caso você esteja lendo isto, suponho que você seja um -, a resposta é tanto sim quanto não.
A parte do sim é para você manter os ouvidos abertos, repetir os sons, se expor ao idioma, mesmo sem entender quase nada do que está acontecendo. Repita o alfabeto, as palavras novas, os números, leia bastante (pode ser coisas infantis, elas são ótimas para isso), ouça muito. Confie no seu cérebro, mantenha a mente aberta e relaxada.
E a parte do não é o estudo em si – entender as diferenças, reproduzir e torná-las comuns e automáticas. É o trabalho ativo de um estudante dominando um conhecimento novo.
Afirmamos categoricamente: as duas coisas são necessárias. Elas se complementam. E, se bem executadas, vão fazer você se tornar independente e fluente no idioma.
Qualquer um pode conseguir. O problema é saber como…
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